É uma questão de exaustão até à perfeição. O problema inteiro são as escolhas para que tudo esteja pronto. Se se parar pra pensar, a vida, cada simples e ligeiro fôlego dela, é uma decisão em andamento. E a constante submissão às opções não nos faz experts em acertos. Aqui, no mundo real, não há treino que nos faça gabaritar. O esforço é todo dia, numa incansável e eterna luta contra as circunstâncias fora do cálculo. O risco só é risco porque está fora do controle. De A a E, ou mesmo entre o certo e o errado, não temos fórmulas pro resultado desejado. Na verdade, de tão subjetiva, a vida é quase sempre nenhuma das respostas anteriores.
Escolhe-se a cor do lápis de cor do desenho, do esmalte de unha, da parede do quarto, do enxoval do bebê. O nome do colégio, da assinatura profissional, da página na internet, do livro que se vai ler amanhã. Escolhe-se o curso da faculdade, o garoto da paquera no colegial, o lugar pra comer o cachorro-quente no sábado à noite ou a cidade onde se vai passar as férias de verão. O sabor do suco, do sorvete e dos dias. É, dos dias também. Basta ter decidido quem vai nos acompanhar na vida.
Entranhada na infinitude, no mergulho de olhos fechados, está a incapacidade de prever o que virá. Ao mesmo tempo em que é belo, o desconhecido torna-se mais que apenas uma interrogação. Ele vira uma reticência que nos imbui à aventura da descoberta ou ao pavor da espera, da inércia.
Racionalizar tudo, permitir nada. Querer descobrir cada enigma da cadeia dos comportamentos humanos previamente. Cogitar reações, medir respostas, provocar sensações e despertar intenções... A tentativa é viciante, a conquista, impossível. Não fosse a inexperiência diária da lida com os diferentes, os rascunhos não existiriam. Seriam apenas os modelos, os textos escritos a caneta, os bonecos fabricados em série e a monotonia das figurinhas repetidas, abertas todos os dias, com a expectativa do novo e a frustrante aparência do antigo.
O que cabe a nós, colecionadores, é a habilidade para – entre encontros, desencontros e reencontros -, acharmos as figurinhas que nos faltam, na velocidade em que nos passam as horas, até que o álbum esteja preenchido. Nomes, cores e sabores – todos – em seus devidos espaços.